Imaginárias e Relógio Externo da Igreja Matriz de Lima Duarte

Informe Histórico das Imaginárias e Alfaias da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores de Lima Duarte

        O surgimento de nossas antigas povoações se fez na maioria das vezes por uma capela, representação da fé que marcou a colonização dos portugueses em todo o mundo. Infelizmente, raras são as Igrejas que possuem uma documentação remontando as suas origens, ou seja, um histórico geral satisfatório. Para esse fato já chamava a atenção de seus sacerdotes o primeiro Bispo de Mariana, Dom Frei Manuel da Cruz, quando lhes ordenou, por volta de 1750, que os livros de registros paroquiais, logo terminados, fossem encaminhados à sede da respectiva Comarca Eclesiástica.
        Lima Duarte também não escapou a regra, tendo desaparecido antigos livros com o correr do tempo.
        As origens da Matriz das Dores remontam a eras muito distantes.
        Nas primeiras décadas do século passado, encontramos, por volta de 1815, nos índices das coleções do Arquivo Nacional, numerosa concessões e licenças para construção de capelas, irmandades e cemitérios em Minas Gerais, várias delas nesta região, não logrando detalhes que identificassem uma delas como a origem da Matriz.
        Segundo informações dos mais antigos limaduartinos, a doadora do terreno para a construção da primitiva ermida e terras ao redor, que constariam de vários alqueires, foi Dona Inácia Maria D’Assunção, mulher de José Delgado Motta. Soube-se ainda que a tosca capelinha era rodeada por uma vasta roça de milho, fechada por uma tronqueira, à primitiva construção fica localizada entre 1780 e 1815.
        Em 1832, pela Resolução de 14 de julho da Assembléia Geral, a capela foi transferida para a jurisdição de Ibitipoca.
        Em 1838, em relação com a data de 20 de julho, fazia-se referência à existência de uma capela no Rio do Peixe assim descritas: ”Seu templo é de madeira e está para concluir-se. População 1.007 almas; situada quatro léguas abaixo de Ibitipoca. Não tem patrimônio. Os mesmos paramentos que a Capela de São Domingos: dois ornatos de quatro cores para a celebração” – Foram estas as informações fornecidas a Mariana pelo Vigário de Ibitipoca, Padre Joaquim Flausino Moreira.
        O primeiro Curadalmas da capela, ali morados desde 1842.  Padre Joaquim da Silva Maia dirigiu-a por muitos anos até falecer em 1875, sendo sepultado no antigo cemitério no adro da matriz.
        Dos vigários que exerceram o “MNUS” paroquial, destaca-se a figura do Padre Pedro Nogueira. Este eminente sacerdote e ilustre cidadão guiou sabiamente por um longo tempo a população limaduartina em busca do Reino de Deus – de 1881 a 1906.
        Encontrando a Igreja Matriz danificada, providenciou em 1886 sua reconstrução - a 10 de março daquele ano reuniu no templo os paroquianos, realizando-se a votação que determinaria as providências necessárias: 113 votaram pela reconstrução no mesmo lugar, 05 apenas pela reforma do prédio e 07 pela reconstrução sem desaterro, pois a capela situava-se em pequena elevação irregular, circundada pelo cemitério.
        Iniciadas as obras por Luiz Klotz, sob a direção de uma comissão composta pelo vigário Padre Pedro Nogueira, pelo Tenente Coronel Francisco Delgado Motta e por Manuel Joaquim Rodrigues, foram concluídas em 1891, ano em que, a 20 de junho foi concedida licença para a bênção eclesiástica da nova Matriz. No mesmo ano foi realizada esta solenidade pelo Bispo Dom Silvério Gomes Pimenta. Neste mesmo dia, foram transportadas as imagens da Igreja do Rosário para a Matriz, celebrando-se missa solene.
        Essa Igreja, construída no velho estilo colonial, media 34,70 m de comprimento por 13,40 m de largura, possuindo galerias laterais, duas portas para a comunicação com a sacristia e coro, assoalhada de madeira de lei e contendo pinturas no teto.
        Em 1937, após o falecimento do Padre Henrique Guilherme da Silva, o bispo diocesano de Juiz de Fora, Dom Justino José de Santana, visitou Lima Duarte inteirando-se da vida paroquial e tomando conhecimento do estado do precário da velha matriz. Providenciou, então, sua reconstrução. Esta foi feita sob a direção do novo pároco, Padre Sátiro da Costa.
        Após alguns anos foi terminada a construção da matriz, com donativos da população católica e contendo várias obras de arte de grande valor, como sejam, na primeira capela, os murais de quatro evangelistas; à esquerda e à direita da nave dois magníficos murais, motivados na vida de Cristo; na pia batismal está representado o batismo de Cristo. Extinguiram-se as galerias laterais e foram construídos os altares do Senhor dos Passos, Coração de Jesus e Nossa Senhora das Graças.
        Em 1961, a Igreja sofreu uma reforma drástica, perdendo todas as suas características coloniais. Possui hoje linhas retas que nada lembram as igrejas anteriores.
        No interior da Matriz de Nossa Senhora das Dores reina a venerada imagem da padroeira do município de Lima Duarte. Uma das tradições mineiras mais fortes e ligadas à religiosidade foi dar ênfase ao sofrimento, a dor, como forma dos poderosos manterem a opressão sobre os fracos e oprimidos, os escravos e pobres daquela época de exploração do ouro. O município de Lima Duarte fez parte daquelas antigas cidades mineiras que cultuaram a dor e o sofrimento para encobrir as ameaças dos fortes aos fracos. É assim que surgiram o Senhor Flagelado, em Liberdade, Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, etc. etc.
        Em Lima Duarte apareceu a Santa da época, Nossa Senhora das Dores, através de uma imagem muito venerada. Esta foi doada por volta de 1820, juntamente com o terreno da igreja, por Dona Maria Inácia D’Assunção, mulher de José Delgado Motta.
        A imagem em madeira tem um metro e cinqüenta e quatro centímetros de altura. Possui rosto, busto, braços e pés esculpidos em madeira, sendo o restante da armação de madeira, o que originou a “Imagem de Roca”. É a escultura coberta por tecidos naturais. Seu rosto apresenta traços de uma mulher portuguesa e possui uma profunda expressão de resignação. A imagem é objeto de veneração de todos os limaduartinos e ponto de referência da cidade. Em 1820, a mesma é citada em textos. No peito esquerdo, atravessa a imagem um longo punhal. No período da quaresma, vestem a imagem de trajes roxos. É tida como Santa que faz milagres na região.
        Faz-se necessário também citar a imagem de Nossa Senhora das Graças que antes da reforma da matriz, por volta de 1960, possuía um altar próprio do lado da Epístola e hoje está situada na capela do Santíssimo. Trata-se de uma imagem em gesso, importada, do século passado, tendo seu manto e túnica bordados em ouro.
        As imagens de Nossa Senhora da Conceição e Santa Luzia são também do século passado. O crucifixo e seis castiçais são de metal e do século XIX.






Descrição e Análise do Bem Cultural
Relógio Externo da Matriz de Nossa Senhora das Dores

        A torre da Matriz equivale em altura a um prédio de cinco andares, sendo praticamente avistado em todas as partes da cidade, apesar do sítio urbano estar situado em um relevo bastante acidentado.
        No penúltimo andar fica o mostrador externo com seus doze números em algarismo romanos e pintado em um vidro cilíndrico e opaco. No centro os dois ponteiros em aço e de cor preta, sendo também a cor dos números.
        No mostrador chama a atenção um detalhe: existem dois números onze, porque ao pintar o nove gravaram o XI e não IX. A noite é possível saber as horas, porque o mostrador é iluminado internamente.
        Na parte superior da torre está situado o mecanismo do relógio. Seu mecanismo é bastante simples e todo feito em aço e ferro. A engrenagem é movida a partir do balanço de um grande pêndulo, que movimenta uma roda superior denteada, transmitindo movimento e força no mecanismo.
        Sua corda é um cabo de aço, puxada por um peso de vinte e cinco quilos, chega a atravessar três andares da torre por um pequeno fosso. De sete em sete dias é necessário enrolar a corda para o relógio funcionar e marcar as horas no mostrador. O comando do mecanismo aos ponteiros é feito através de uma vareta de aço de 300 cm.
        Possui o relógio uma segunda corda, também em cabo de aço, puxada por um peso de cinqüenta quilos. Serve este cabo para acionar um martelo de ferro de dois quilos, que através de braços de ferro e molas fixadas na engrenagem marca as horas e as meais horas, batendo no sino (de fimados). O som emitido pode ser ouvido a quilômetros de distância.
        Este relógio não possui rolamentos, é de marca F. KRUSSMANN & CO. (Alemanha). Para chegar até ela usa-se uma escada em caracol de seis metros e depois mais três lances de escadas. Esteve longos anos parado, até que foi restaurado por este Conselho, em setembro de 2000, estando hoje em pleno funcionamento.

























Um comentário:

  1. Marcelo, há que registrar-se que a Matriz só pode ter perdido seu estilo colonial na reforma de 1891, quando foi demolido o templo de estrutura de madeira vedada com adobe e construído em seu lugar o templo de tijolos à vista, obra do construtor alemão Luiz Klotz, em estilo românico ogival. Esse prédio de tijolos à vista seria rebocado em 1939, gerando o prédio que havia antes da reforma de 1962.

    Quanto ao relógio faltou dizer que foi implantado na torre em 1903, tendo sido comprado no Rio de Janeiro a mando do Padre Pedro Nogueira da Silva.

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